quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Vira-lata - Cap 5


Capítulo 5 - Novos odores, decotes e escarros.

"Olhos de dragão!". Assim acordou Davi, assustado com aqueles olhos tão perto dele. Ele sentiu um medo tão forte que acordou tremendo e com seus pelos arrepiados. Ele ficou um tempo pensando consigo mesmo "O que era aquilo? Quem teria olhos como aqueles? Será realmente um dragão?". Mais e mais perguntas sem respostas surgiram em sua mente, mas não por muito tempo. Poucos minutos depois entra seu tio no quarto, com um balde de água fria na mão esquerda.


– Uai! Tá acordado?

– Não! Sou sonâmbulo! - retrucou Davi. Samuel ajeitou seu inseparável óculos escuros e jogou a água fria em Davi. - Mas eu já estava acordado!

– Poxa... Pensei que você era sonâmbulo... - Samuel gargalhou - Levanta logo, temos que fazer a sua barba.

– Ah sério? - Davi parou e lembrou, que no dia anterior havia se transformado, e quando se volta ao normal depois de se transformar os pelos e cabelos ficam maiores. Davi se levantou colocou o colchão do lado de fora na casa para não ficar com mofo e foi ao banheiro. Lá o ritual matutino se repetiu, Samuel tirou a barba de Davi e aparou seu cabelo. Quando ele foi cortar a unha de Davi reparou que algo havia mudado, as unhas do garoto estavam negras. Nem o próprio havia percebido isso, era comum elas ficarem negras enquanto ele estava transformado em Uzi, mas na forma humana elas voltavam a cor natural.

– Uhn... Temos um problema, eu já tive aquela conversa com você sobre as mudanças no seu corpo? Essa coisa de puberdade e tal?

– Sim, quando eu tinha 7 anos eu acho. - Os dois riram.

– Tá. Temos duas opções: ou pintamos a sua unha ou você vai ser zoado de emo. Qual você prefere?

– Pintar a unha não faz minha cara, vamos deixar do jeito que está.

Eles terminaram de se arrumar e quando estavam saindo de casa Samuel deu uma jaqueta pro menino, mas essa não tinha nenhuma marca de nenhum clã, era simples e monótona até. Eles saíram da cabana e foram até a oficina que ficava na beira da estrada. Lá Samuel abriu a garagem para pegar sua moto e Davi visualizou Harley Davidson que ele trabalhava lá no fundo, semi coberta por um pano. Samuel pegou a moto, fechou a oficina e foram em direção ao colégio. No portão estava o zelador, parado encarando todos que passavam. Davi se despediu do tio e entrou, tentou não encarar o zelador mas não conseguiu evitar, seus olhos esbugalhados e penetrantes foram direto aos olhos do garoto. Davi abaixou a cabeça e apressou os passos. Entrou no pátio do colégio onde todos conversavam ao mesmo tempo, o que causava um barulho desconfortante para a audição aguçada de Davi. Ele se sentou embaixo da árvore que ficava do outro lado da quadra. "Farejar né? Vamos o que eu consigo achar aqui." ele parou e deu uma fungada no ar, e quando abriu os olhos os odores eram visíveis, ele conseguia diferenciar de onde vinha cada um e o que significava cada cor que cada cheiro tinha. Demorou um tempo para ele sentir algo diferente, no começo havia apenas o cheiro de humanos, quando o zelador apareceu ao longe ele logo sentiu. Era um odor diferente, algo como se fosse cheiro de terra e álcool, diferente do cheiro daqueles licantropos que Davi viu andar na floresta. Normalmente os lobisomens só reconhecem o cheiro de alguma raça ou pessoa depois que já o sentir pelo menos uma vez, mas Davi era diferente, ele tinha o cheiro de todas as raças arquivadas no mais profundo de sua mente. "Coiote!" ele pensou "Esse é o cheiro de um coiote... Eu acho...". Davi se levantou e começou a andar "Logo vai bater o sinal, vamos ver o que mais eu acho por aqui" ele andou e não achou nenhum licantropo entre os alunos. O sinal bateu e a inspetora bonita apareceu "Tupi-guará! Ela também um licantropo? Quero dizer, licantropa? Argh! Nem sei se "licantropo" tem feminino" ela olhou para ele, pois ele estava encarando-a, e começou a reunir as turmas em filas. "Será que ela me viu? Se ela souber eu to ferrado!".

Davi "desativou" seu "super poder de cheirar os outros" e foi para a fila, ele era o aluno mais baixo da sua turma e algumas pessoas caçoavam dele por causa disso. A partir dali o dia foi monótono, aulas chatas, Davi olhando pela janela quase dormindo, o caçoadores da turma fazendo barulho dentro e fora da sala de aula. O intervalo também não teve nada de novo. Davi se sentou longe dos outros. As pessoas passavam e conversavam entre elas: "Por que ele usa óculos escuros? Olha as unhas dele, ele deve ser gótico. Que garoto estranho". Mas Davi não se importava com aquilo e apenas falava em voz baixa - Humanos!

Ele terminou de comer um pão com bife que seu tio fez e foi ao banheiro. Quando chegou havia um casal transando em uma das privadas, Davi fingiu que não viu e foi lavar as mãos. Aquele casal devia ter uns 16 anos. "Humanos, tão novos e já deixam sua carne falar mais alto. E depois os animais que são levados pelo instintos carnais". Davi tinha esse tipo de pensamento. Ele não entendia o porque de tanta pressa, de viver a vida fazendo todas as besteiras possíveis, como se o dia de amanhã fosse o último. Ele saiu do banheiro e deu de cara com Alan, "o valentão".

– Olha só, quem acaba de sair do banheiro! Estava trocando seu absorvente donzela gótica? - ele e suas hienas gargalharam.

– Saiam da minha frente. - Davi falou de forma seca.

– Ficou machinho agora? - Alan pegou na blusa de Davi o encarando. Davi levantou a cabeça e agarrou o pescoço do valentão. Aos poucos foi o levantando pelo pescoço e todos ficaram assustado. O jovem de baixa estatura não aparentava ser muito forte... Não aparentava não ser nada forte na verdade. Os amigos se afastaram e Alan foi levantado o máximo quanto o braço curto dele permitia.

Davi quase perdeu o controle, mas reparou que todos os alunos estavam olhando para ele, muitos deles assustados. Alan de eu soco no rosto de Davi e todos olharam para o óculos que caiu no chão.

– Ficou machinho agora? - Davi olhou para o brutamontes, rindo e olhando diretamente nos olhos dele, que então conseguiu ver seus olhos, um cinza e um vermelho. Medo... Era a única coisa que Alan sentia. O zelador deu um tapa na cabeça de Davi que voltou a si. Largou Alan, que caiu sentado no chão ainda em choque. Tapou os olhos para que ninguém os visse e apalpando o chão pegou seu óculos escuros e colocou.

– Vocês dois, para minha sala! - disse a inspetora, que apareceu na porta do banheiro feminino.

Davi já ia dar seu primeiro passo quando o zelador falou em seu ouvido: "Cuidado com ela, ela é esperta e perigosa. Não se deixe levar pelo seu decote e seus peitões." Davi quis rir mas se segurou, abaixou a cabeça e foi direto para a sala dela. Assim que chegou sentou em uma cadeira de madeira e se acomodou. Viu que além de inspetora ela era coordenadora e vide-diretora da escola, porque não havia ninguém para ocupar esses cargos. Poucos minutos depois Davi escutou gritos do lado de fora da sala. Era a inspetora e mais alguém.

– Entra na sala!

– Não vou entrar, ele está lá dentro. Ele é um demônio ou algo assim! Eu não vou entrar! Me larga! - Aí então Davi percebeu que era Alan falando com uma voz chorosa.

A inspetora entrou na sala com raiva. Alan ficou do lado de fora. Ela se sentou, ajeitou seu cabelo, que se bagunçou enquanto tentava fazer Alan entrar na sala e falou:

– Que merda foi aquela? - "Nossa!" pensou Davi "Que vocabulário magnífico para uma pedagoga".

– Ele me irritou, eu levantei ele pelo pescoço, depois joguei ele no chão vim pra cá. Não é difícil de entender.

– Sarcástico você, não? - "talvez, só nas horas vagas" respondeu mentalmente Davi. - Olha aqui mocinho, você vai tomar essa advertência, que deve ser assinada por seu responsável e traga ela amanhã. Você conseguiu entender isso? - Davi apenas balançou a cabeça de leve e pegou a advertência. - Agora pode sair.

Davi saiu da sala da inspetora e viu o valentão atemorizado, todo encolhido no banco que ficava no corredor. Ele deu um sorriso no canto da boca, mas lá no fundo se sentiu mal por causar aquilo em alguém. Ele saiu pelo corredor e o zelador o parou.

– Um vermelho, como sangue... Garra sangrentas. Um cinza claro, como o luar... Guardiões da lua. Eu já sei quem ou o que você é. Eu achei que era apenas uma lenda, mas é verdade. Você é um vira-lata, não um vira-lata qualquer, mas O vira-lata. Híbrido dos dois clãs de merdinhas pomposos e orgulhosos. - "Ele sabe demais... estou perdido" - Mas me responde uma coisa: Como está aquele velho barrigudo e cachaceiro?

– Que-quem? - Gaguejou Davi.

– Quem? O Samuel, aquele gordo brocha.

– Você conhece meu tio?

– Não só conheço, das cicatrizes que ele tem, umas sete fui eu que fiz. - O zelador soltou um riso rancoroso. Ele não era de sorrir, mas pelo menos escarrou no chão, o que era como uma sorriso... Talvez...

Davi ficou feliz, não estava tão ferrado quanto ele imaginava.

– Então meu segredo está seguro?

– Depende de quanto me pagarem. - mais uma vez ele cuspiu no chão um catarro bastante sólido. - Mas nem todos aqui serão assim, tome mais cuidado. Principalmente com a inspetora, pois acho que você já sabe o porquê. Você entendeu seu mariquinha?

– Sim. - Respondeu o menino mais aliviado.

– Então volta para a sala, já está no tempo. Da próxima vez o meu tapa será mais forte, agora que sei quem você é.

– Sim, sim, muito obrigado ããhhnn... Qual o seu nome mesmo?

– Eu não sou seu amigo moleque! Sou o zelador e assim que todos me chamam, assim que você deve me chamar. Agora sai da minha frente!

– Aahn Então tá. Muito obrigado... zelador. - Antes dele terminar a frase o zelador já estava longe demais. Davi então saiu andando em direção a sala e se sentou. Todos olhavam para ele e cochichavam.

– Ele enfretou o Alan! - Diziam os nerds na frente da sala.

– Ele conseguiu levantar ele pelo pescoço! Você viu? - Conversavam os amigos do Alan.

– Até que ele é bonitinho... - Cochichavam as piriguetes da sala.

Davi conseguia ouvir tudo, e por alguns instantes desejou ter uma audição normal como todos os outros para ter um pouco de paz. A aula acabou e todos, com medo de Davi, não se aproximavam dele. "Já era difícil não chamar a atenção com esses óculos e essas unhas pretas, agora então estou ferrado!". Ele saiu, seu tio já estava no portão da escola.

– E aí? Como foi sua aula hoje?

– Cheia de fortes emoções - brincou Davi sarcasticamente. - Vamos logo tio, ainda quero treinar hoje.

– Você quis dizer apanhar não é? - Samuel riu alto e todos os alunos que estavam na rua olharam para eles. - Seu pedido é uma ordem, "vamsimbora". - Então Samuel ligou a moto de foi em direção ao horizonte da estrada para a floresta.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Vira-lata - Cap 4


Capítulo 4 - Broncas, cheiros e toras voadoras

  Floresta de Tinguá. Uma floresta misteriosa, calma, serena, sem barulhos...

– Você é maluco!? - bom, pelo menos era... - O que você tem na cabeça? Comeu merda por acaso? - A todo momento Davi escutava em silêncio.

  Eles estavam em casa, Davi sentado no sofá já rasgado e gasto pelo tempo e Samuel andava de um lado pro outro em frente a lareira. Era por volta de meio dia, eles haviam acabado de chegar do colégio de Davi e a viagem havia sido desconfortável, para os dois. Para o jovem porque ele sabia que havia feito besteira e estava imaginando que tipo de bronca ele iria levar e para Samuel que estava com fome...

– Seu inconsequente! Pensastes nas consequências de vossas atitudes? - Parte censurada.

– Eu sei tio, mas eu me senti atraído pela jaqueta... - antes que ele pudesse terminar foi cortado.

– Mas mas mas, desculpas e mais desculpas! Falasse comigo antes! Que eu te explicaria o porque de eu estar guardando essa jaqueta para o momento certo. Você por acaso consegue imaginar quantos licantropos ou ocultistas reconheceram os símbolos da sua jaqueta

Licantropos nem são tanto problema comparados aos ocultistas, eles são humanos comuns que acham que conhecem o mundo oculto. Alguns deles realmente conhecem e fazem de tudo para provar que as coisas que eles acreditam são verdade. São, literalmente, humanos enxeridos. Se metendo em segredos que são mais fortes que eles.

– Alguém te viu? Sentiu o cheiro de algum licantropo lá no seu colégio?

– Não que eu tenha percebido. - Davi mentiu, pensando que não seria o melhor momento para falar sobre o zelador.

– Menos mal então. Mas vou te dar um conselho: "Antes de entrar em qualquer lugar, fareje. Pois só assim você vai saber com quem está lidando". Você vai ficar um mês cozinhando para mim e vai ficar um bom tempo sem entrar na oficina. - Cozinhar não era um castigo tão drástico, Davi gostava de cozinhar. Na verdade aquilo era mais preguiça de Samuel do que castigo. Mas ficar sem entrar na oficina era demais para o jovem. Era o que trazia calma a ele, entrar e mexer em uma velha moto estradeira que estava jogada de lado. Limpando-a, trocando peças, e as vezes apenas admirando-a, era aquilo que ele fazia para passar o tempo.

– Mas...

– Mas nada. - interrompeu Samuel.

  Davi saiu da cabana batendo a porta, cheio de raiva. Se transformou em um Uzi e começou a correr pela floresta. Parou já bem longe da cabana e golpeou uma árvore que estava ao seu lado, cuja qual perdeu parte de seu tronco. Ele ia gritar de raiva consigo mesmo mas escutou barulhos na floresta. Ele voltou a sua forma "humana" e se escondeu. Logo viu dois homens andando e cheirando o ar. "Quem são eles?" pensou Davi. O garoto se concentrou e sentiu o cheiro que estava impregnado no ar. Um cheiro de sangue, misturado com ódio, e com uma pitadinha de álcool e cigarro. "Garras Sangrentas! O que fazem aqui?". Os pelos que cobriam o corpo de Davi, se arrepiaram só de sentir a presença deles.

– Não sinto cheiro de lobo nenhum! Merda! O "Olhos de dragão" mandou procurarmos o cavaleiro ou a criança que ele levou. O que faremos Tonhão? - disse o homem magro que ia na frente.

– Não sei, Catarro - respondeu o careca que ia atrás - vamos continuar procurando aquele desgraçado, quero as tripas dele na minha por ter feito o que fez.

"Será eles estão procurando algum sequestrador? Se eles forem do bem?" Davi se indagava escondido. Pensou se era uma boa ajudá-los, mas sentia que eles não eram tão amigáveis assim. Então continuou escondido. Os homens foram andando e logo saíram da vista de Davi. Ele saiu de trás da árvore e respirou fundo. "Quase... Um barulho e eles viriam pra cima de mim". Ele estalou o pescoço e se virou e deu de cara para uma barriga coberta por uma camisa cinza suja de graxa. Olhou pra cima devagar e deu cara com uma barba branca, e por trás da barba densa estava Samuel.

– Foi por pouco, mais um barulho e eles teriam te achado.

– Jura? Nem percebi! - Disse Davi com um sorriso no canto da boca.

– Pegue esse seu sarcasmo, guarde bem guardado no seu bolso e vá pegar toras de madeira, hoje a noite antes antes do jantar você terá que aprender algumas lições. Pra isso vão servir as toras mais grossas.

– Que lições?

– Não te interessa! - respondeu Samuel, irritado pelos questionamentos - Pelo menos não por agora.
Davi virou as costas e foi obedecer seu tio, por mais que não quisesse ir pela grosseria ele não tinha escolha. Pegou pedaços pequenos e grandes de madeira e reuniu perto da cachoeira que ele gostava de visitar de vez em quando. "Vou tomar um banho" pensou ele. Quando ele chegou mais perto escutou um barulho vindo da cachoeira. Ele se escondeu por trás de uma árvore e olhou para a cachoeira... Ele teve um surpresa interessante. Ali se banhava uma jovem, mais ou menos da idade dele, pele morena, cabelo negro que vinham até o meio das contas. Ela tinha um corpo escultural, suas curvas eram hipnotizantes... bom... pelo menos hipnotizou Davi por um certo tempo. Um outro barulho na floresta o acordou do "transe", eram de passos, de alguém que ia na direção da cachoeira.

– Vamos mocinha, já está na nossa hora. - Disse uma voz de homem por trás de uma árvore, Davi sabia de onde vinha mais não o conseguia ver.

– Está bom Pai, estou indo. - A garota saiu da água já enrolando em uma toalha que estava ali perto.

"Merda, tinha que ter uma toalha?" reclamou Davi. A garota havia acabado de se vestir quando Davi sem querer pisou em um galho que estava no chão, que fez um barulho alto de estalo quando quebrou. Ele rapidamente se escondeu e ela olhou pra trás. Davi estava atrás de um arbusto e conseguia vê-la, mas ela não o via. Ele olhou diretamente pros olhos dela. Olhos que tinham uma cor que ele nunca havia visto antes. Era um mel esverdeado.

– Vamos logo - Disse o homem e ela o seguiu.

Davi sentou de costas para a árvore, e respirou o que não podia ter respirado quando fez barulho. "Ufa! Mais uma vez foi por pouco". Ele ali ficou em silêncio por um tempo, pensando da garota que ele havia visto. "Caramba, não sabia que haviam humanas tão bonitas assim". Depois de alguns minutos se deu conta de que já estava anoitecendo. Pegou os galhos e toras e foi correndo pra cabana. Colocou as lenhas perto do fogão e levou as toras para Samuel. Ele estava na parte de fora, atrás da cabana.

– Pronto.

– Vamos começar então. Hoje quero treinar a potência dos seus golpes e a forma como você ataca. - Ele nem havia terminado de falar quando jogou a primeira tora pra cima de Davi. Ele se esquivou. - Não! Ataque! - Jogou outra tora, Davi deu uma pancada de mão aberta na tora, como se estivesse afastando um mosca de cima dele. - Não! Ataque igual ao homem seu marica! - Davi ficou com raiva, e a outra tora ele atacou da mesma forma, mas dessa vez com as garras.

Samuel pegou uma tora e deu na mão de Davi e se afastou.

– Jogue e eu te mostro como se faz.

Davi se irou e jogou com toda a força possível. Samuel fez suas garras crescerem e golpeou no centro da tora com a mão totalmente reta e firme. Sua mão atravessou aquele pedaço de madeira sem despedaçá-la, apenas ficou o buraco do seu golpe e algumas rachaduras.

– Isso é moleza - disse Davi - Se um velho capenga consegue fazer eu consigo melhor.

Samuel com toda sua calma pegou uma tora e jogou pra cima de Davi, que tentou deixar sua mão reta também, achando que conseguia. Mas assim que golpeou a tora apenas perfurou alguns poucos centímetros da tora, uns dois ou três para ser mais exato. Samuel apenas riu, e Davi percebeu seu sorriso escondido pela densa barba.

– Manda outra. - Samuel jogou, mas o resultado se repetiu. Não só desta vez, mas todas as outras dezesseis vezes que seguintes. - Anda! Estou quase conseguindo!

– Não, deixe para amanhã. Agora entra e faz a comida.

Davi entrou e começou a pegar os ingredientes, quando foi fechar a mão sentiu uma dor irritante nas juntas dos dedos. Ele fez força e conseguiu fechar a mão para pegar a panela, mas quando foi puxá-la ela caiu de suas mãos. Estava sem firmeza por tanto bater nas toras. Samuel o cutucou no ombro. Ele estava com uma bolsa de gelo e deu para Davi. Depois se virou, ligou a televisão e sentou no sofá. Davi colocou a bolsa na mão direita, depois na esquerda. Quando se sentiu melhor começou a fazer a janta. Em meio as dores que ameaçavam voltar e os resmungos de fome do seu tio, Davi lembrou da jovem que ele viu na cachoeira. Algo nela tinha marcado aquele adolescente com os hormônios a flor da pele, não era seu corpo formoso, seus cabelos negros e ondulados ou sua cor de pele. Eram seus olhos. Os olhos dela era algo que Davi nunca havia visto na vida. Claro, o tempo que ele viveu na floresta longe do mundo ajudou bastante, mas não era isso. Por mais que ele não conhecesse muitas pessoas, ele sabia que aqueles olhos não eram algo se encontra em qualquer lugar. Quando voltou a si viu que quase havia deixado o arroz queimar. Logo terminou de fazer a janta, comer e foi pro quarto. Ele foi dormir ainda pensando na garota, mas algo lhe veio a mente. "E aqueles dois Garras Sangrentas? O Cavaleiro e a criança... O que eles querem dizer com isso?"

Não demorou muito tempo e Davi caiu no sono. E o mesmo sonho da noite passada o atormentou. Dois pares de olhos se abriram em meio a completa escuridão, um par de olhos vermelhos a esquerda dele e um par de olhos prateados a direita. Os vermelhos com uma cicatriz em um deles e os prateados com uma tribal em volta de um deles. Logo depois vieram os outros pares de olhos, e não havia na diferente. Davi gritou querendo saber o que era aquilo tudo, mas nada acontecia, até que um outro par de olhos apareceu, eles estavam mais perto de Davi do que os outros. Eram olhos vermelhos como o sangue, mas eram diferentes, eram olhos agressivos, e a parte negra no centro da íris não era uma esfera e sim um traço que afinava conforme chegava mais perto de Davi. "São olhos... São olhos de Dragão?"

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Vira-lata - Cap 3

Capítulo 3 – Pequenas mancadas, grandes problemas

Era tudo completa escuridão. Para todos lados que Davi olhava não havia nada além de trevas. Mas de repente quatro olhos se abriram, dois a direita e dois a esquerda de Davi. Os da direita tinham uma cor prateada e os da esquerda eram vermelho sangue, e um dos olhos vermelhos tinha uma cicatriz em forma de corte na vertical que ia de cima do olho até bem abaixo dele, e um dos olhos prateados tinha uma tatuagem tribal ao seu redor. Havia apenas aqueles olhos e suas marcas no meio da escuridão.

– Onde eu estou? – perguntou Davi – E quem são vocês?

Nada além do silêncio essa foi a resposta para Davi. E aos poucos outros olhos foram começando a se abrir em meio a escuridão, olhos de várias cores, uns pareciam amigáveis, outros simplesmente amedrontadores.

– Quem são vocês? Me respondam!

Um frio o fez acordar. Ele estava todo molhado na cama olhou para cima e viu Samuel com um balde virado em suas mãos.

– Acordou bebê? – Disse Samuel com um tom de escárnio, rindo do susto que Davi havia tomado – Levanta, temos muita coisa a fazer antes do seu primeiro dia de aula. – Davi olhou para a janela ao lado da sua cama e viu que ainda estava escuro.

– Que horas tem? – Perguntou o garoto.

– Agora deve ser umas cinco da manhã.

– Por que você me acordou a essa hora? A aula só começa sete horas.

– E você acha que eu não sei? – Samuel puxou o lençol que estava embaixo de Davi, o que fez o garoto que cair com vontade no chão. – Tenho que te deixar mais... humano.

Davi se levantou e foi andando em direção ao banheiro, lá ele viu um balde com água quente no chão, duas toalhas de rosto penduradas na parede e uma tesoura, um pente de osso e uma navalha digna de uma filme de "serial killer" em cima da mesa. Ele se virou para perguntar para Samuel para que era aquilo mas o velho já estava do lado de dentro do banheiro trancando a porta. Ele se virou e seus óculos escuros brilhavam em um tom maléfico graças a lamparina que ali estava. Davi se afastou lentamente dele. Samuel andou em direção a Davi, pegou a tesoura e o pente, e continuou andando.

– Agradeça a fada azul da metalurgia, graças a ela você parecerá um menino de verdade – Ele soltou uma gargalhada que fez eco na casa.

– Nããããããoooooo – gritou Davi.

Uma hora depois a porta se abre, Samuel sai com uma toalha pequena nas mãos, limpando os cabelos cortados que estava em suas mãos.

– Vamos rápido, se não você vai chegar atrasado.

Davi sai do banheiro muito diferente de quando entrou, agora estava sem barba e com o cabelo arrumado, não havia tantos pelos no braço nem no corpo.

– Por que os adolescentes humanos são assim? Tão sem pelos?

– Pergunte para sua professora de Biologia... Não, não pergunte, apenas aceite isso. – Samuel pegou sua jaqueta da sua antiga “gangue”, os lobos andarilhos, dois capacetes e se virou pra Davi – Seu uniforme está em cima da sua cama, passado e limpo, junto com sua mochila que contém tudo que você irá precisar para hoje. Hoje está frio, então pegue um dos meus casacos, pegue o que você mais gostar e pode ficar com ele. É um presente em comemoração do seu primeiro dia de aula.

Davi foi para o seu quarto e olhou pro uniforme. Era uma blusa cinza, da cor de um pano de chão, com o “Logo” do estado do Rio de Janeiro e em cima do logo o nome do colégio, Visconde de Tinguá. “Que legal, além de não terem pelos direito, eles ainda usam esse pano de chão como blusa, humanos.” Davi pensou. Ele a vestiu com uma calça jeans que estava do lado da blusa, antes rasgou um pouco algumas partes da calça, como sempre fazia com suas calças, pegou uma corrente pequena e amarrou pendurada no lado direito da cintura, logo após colocou. Ele foi andando até a porta e se lembrou do casaco. Foi pro quarto de Samuel e abriu o guarda-roupa, ele olhou os casacos tentando escolher um que o agradasse, mas todos pareciam iguais. Ele começou a procurar nos outros compartimentos do Guarda-roupa. Até que achou uma caixa grande escrita “L & L”, curioso, ele a abriu, e lá viu fotos dos seus pais. Ficou paralisando olhando as fotos por alguns instantes e depois começou a ver as outras coisas que estava na caixa. De lá ele tirou um casaco de couro negro com um marca com garras vermelhas no lado esquerdo do peito e uma ombreira de prata no ombro direito. “Garras vermelhas e Guardiões da lua” Davi ficou admirado aquele casaco.

– Anda logo! Você vai se atrasar! – Davi se assustou com o grito. Ele pegou o casaco, fechou a caixa e a guardou onde estava. Ele já ia saindo quando percebeu que se o seu tio o visse com a jaqueta brigaria por mexer nas suas coisas sem permissão, então dobrou o casaco de forma que a marca da garras e a ombreira não ficassem visíveis.

Assim que chegou na moto do seu tio ele entrou no sidecar e falou:

– Vamos logo.

– Por que você demorou tanto? E que casaco você escolheu?

– Estava escolhendo melhor o casaco, depois eu te mostro ele. Vamos antes que eu chegue atrasado.

Samuel olhou nos olhos de Davi com seu inseparável óculos escuro como se estivesse desconfiado de algo mas deu partida na moto e acelerou. Por alguns minutos eles ainda estavam dentro da floresta, passando por entre as árvores, pois não havia estrada, nem mesmo de terra, que levasse à cabana. Depois de aproximadamente sete minutos eles estavam na beira de uma estrada, foi a primeira vez que Davi saiu da floresta, ele já havia chegado perto da estrada mas nunca ousou chegar muito perto, uma vez uma criança que passou em um carro o viu perto da estrada e gritou: “mãe, olha o mostro, olha o monstro”. Davi se escondeu e não quis mais passar nem por perto da estrada.
Depois de quinze minutos eles chegaram no centro do bairro de Tinguá.

– Seu colégio é aquele ali na frente.

Davi olhou pra frente e viu, um colégio público, com muros pichados e com parte quebradas. No topo do muro havia metais retorcidos, colocados ali para impedir que alunos fugissem. O portão era feito de grades de ferro, um pouco retorcidas. Parecia mais um presídio do que uma escola. Samuel parou a moto em frente ao portão, praticamente em frente ao zelador que estava de porteiro ali. Um homem estranho, meio banguela e com uma barba mal feita e má distribuída em seu rosto franzino e enrugado. Ele não era tão velho, era apenas acabado. Esse homem ficou encarando os dois.

– Toma isso aqui – Samuel deu um óculos escuros – Os outros pirralhos vão achar estranho um cara com um olho cinza e o outro vermelho.

– Ah claro! E não vão achar estranho um garoto com óculos escuros no meio da sala de aula. As vezes me espanto com sua genialidade.

Samuel gargalhou tão alto que todos da rua ficaram olhando para eles, o que deixou Davi constrangido.

– Boa aula moleque. – Disse Samuel já ligando a moto – E toma cuidado.

– Ok – Disse Davi. Samuel partiu de em direção a estrada e o jovem lobo ficou olhando, petrificado vendo o tio indo embora.

Ele se virou para o portão da escola e entrou, ainda sendo encarado pelo zelador. Atrás do portão havia uma quadra, não muito grande, com arquibancadas de cimento de quatro andares, uma do lado esquerdo e outra do lado direito. As traves, que um dia foram brancas, estavam enferrujadas e caindo aos pedaços. As paredes que cercavam a escola, que um dia também foram brancas, hoje estão encardidas e com marcas de pés e bolas. Davi se sentou em um canto afastado da quadra e colocou sua jaqueta, ficou um pouco largo mas ele adorou. Ele sentiu algo no bolso interno e colocou a mão para ver o que tinha ali. Era um papel dobrado, meio amarelado, com letras que mais pareciam garranchos de médico. Ele abriu o papel e começou a ler. Assim dizia:

“Davi, você deve ser forte. Esse papel deve ser entregue a você quando você estiver pronto, então não culpe aquele velho por ter escondido isso de você por tanto tempo. Um dia, mais cedo ou mais tarde, você encontrará parte da sua família que ainda está viva...” – Davi sorriu, como ainda estivesse esperança de ter uma família – “Não fique contente” – Davi fechou a cara – “Assim que você conhecê-los, será para lutar até a morte, pois você não pode existir, eles te consideram uma mancha enorme no nome do clã deles. A morte te segue de perto, e aqueles que ficam a sua volta correm muito risco, então tome cuidado. O que pra uns é oculto, para nós, é visível e está em todos os lugares. Não deixe de tomar cuidado.” Assim que Davi terminou de ler o sinal tocou era hora de ir para a sala de aula. Os pelos do corpo dele, pelo menos os que sobraram, se arrepiaram só de pensar em entrar no colégio. Mas ele respirou fundo e foi. Colocou sua jaqueta e guardou o papel em um bolso.

Todos os alunos estavam no pátio, conversando, revendo os velhos amigos, alguns até já começaram a “investida” nas garotas que ali estavam, apenas Davi estava inquieto. Poucos minutos depois uma mulher jovem, provavelmente com uns vinte e seis anos subiu em uma das arquibancadas com um microfone e uma caixa de som pequena.

– Bom dia a todos – disse ela com um sorriso no rosto, ela tinha feições indígenas, e um belo corpo. Parte dos garotos olhava-a com um desejo que só os adolescentes com hormônios a flor da pele têm. – Eu sou a coordenadora Dalila, e vou dividir as turmas pra termos o primeiro dia de aula. – e assim foi, assim que separou as turmas fez todo aquele discurso clássico que diretores, coordenadores e professores fazem sobre dever e direito do aluno, além de citar as regras da escola. Davi estava quase dormindo quando um garoto da turma dele lhe deu uma tapa no pescoço e disse:

– O anão, acorda aí, ficou batendo uma a noite toda é? – ele o grupo dele riram, gargalharam como se fosse a brincadeira mais engraçada do mundo. Davi apenas fitou-os com o olhar, “Bando de hienas” pensou.

– Vocês aí! Silêncio! – Gritou o velho zelador, um homem magro e velho, com uma feição carrancuda no rosto. Era o mesmo homem que encarou Davi na porta do colégio. Dalila terminou de explicar e direcionou turma por turma as suas respectivas salas.

Davi fazia parte da turma 1002, a segunda turma de primeiro ano. Ao chegar na sala cada um foi escolhendo seus lugares e ele preferiu sentar no final da sala, no canto direito, perto da janela. Alguns minutos depois o garoto que havia implicado com ele entra na sala, olha pra Davi e sussurra algo com os amigos dele, logo após isso eles começam a ir andando pro final da sala. Assim que todos escolheram seus lugares e seus grupos Davi percebeu que naquela sala a maior parte dos alunos tinha jeito de encrenqueiros, garotas “patricinhas”, garotas faveladas, musculosos lutadores de uma luta qualquer, arruaceiros e até tinha uns que pareciam drogados. Uma professora entra na sala e escreve no quadro: “Prof.ª Jucicreide, matéria: Sociologia”. Alguns da sala riram do nome, outros zombaram da matéria dela.

“Só pode ser brincadeira, logo no primeiro dia vou ter aula de humanas” pensou Davi. Ele tinha uma facilidade enorme em física, química, matemática e até em biologia, mas se havia algo que não entrava na cabeça dele era história, geografia política e sociologia. E dali o resto da aula foi algo monótono com a professora querendo atenção de toda a turma e ninguém dando atenção à ela. Duas horas e  meia depois bate o sinal do intervalo. “Primeiro tempo de sociologia, segundo e terceiro de química. Vejamos o que o resto do dia me aguarda”. Davi abriu sua mochila pegou o lanche que estava nela e foi para o pátio. Foi um alívio, a maioria dos lobisomens não gosta muito de locais fechados, e Davi era um deles.  Ele olhou em volta vendo vários grupos reunidos conversando e poucos lugares para ele sentar para comer. A esquerda dele, fora da quadra havia uma mesa quadrada de cimento com 4 cadeiras do mesmo material, ele foi andando em direção ao local para sentar mas outro grupo chegou primeiro. Então ele mudou de direção e sentou embaixo da árvore, na sombra. Pegou seu sanduíche que seu tio havia feito e o suco que estava com ele e degustou ali mesmo.

Quando o sanduíche estava quase acabando aquele grupo de desordeiros, que havia mexido com Davi, estava indo em direção a ele. “Lá vem merda”, Davi guardou o resto de sanduíche na mochila, terminou o suco e se levantou. Quando ele já estava de pé o líder da matilha de hienas estava na frente dele.

– Olha quem encontramos aqui, o anão de jardim! – todas as hienas riram, gargalharam como se estivessem vendo um filme de com´pedia besteirol – E aí tampinha, vou te dar uma notícia, a gente não gostamos de você. – Davi sentiu uma pontada no pâncreas por causa do erro de português – Por isso, você será nosso saco de pancada, fará nosso dever o ano todo, entre outras coisas. Tudo bem pra você?
– Não. – Davi saiu andando em direção a sala enquanto o escarnecedor veio correndo atrás dele.
– Não vire as costas enquanto eu estou falando babaca – veio ele correndo com uma das mãos levantadas, pronto para dar um soco em Davi. Mas o soco foi parado, pela mão do zelador. Mas Davi não iria levar o soco, pois quando o zelador parou o soco, a mão de Davi já estava preparada para defender o golpe.
– Bando de bichinhas! Aqui no colégio não é lugar para suas brigas disputando homens. Se as moças querem se  estapear e arrancar o cabelo uma da outra que façam, mas fora do colégio. – O chefes das “hienas” bufou e saiu andando. Quando Davi se virou pra ir para a sala o zelador colocou a mão no ombro dele e o parou. – Moleque eu já senti muitos cheiros, sou um lobo velho neste mundo, consigo saber quem é o que de longe. Mas eu não conheço seu cheiro. – “Merda ele é um lobisomem”, pensou Davi, “Eu nem me preocupei em saber se havia lobisomens nesse colégio”. O zelador era realmente um homem muito feio e estranho, magro, com pouco cabelo, o fios que ainda sobravam na cabeça dele eram longos e iam até o pescoço. – Me diga, o que é você? – O sinal bate.

– Talvez um outro dia senhor, agora vou pra minha aula.

    – Você não tem pra onde correr. Um garoto que me aparece com dois símbolos de clãs de licantropos na jaqueta não vai escapar de mim até me explicar tudo. – “Merda os símbolos” Davi fechou a mão com força, “lobo burro, burro, burro, burro.” Se martirizou. – Vai lá, mais cedo ou mais tarde você vai me contar. E toma cuidado pra não machucar o Alan, aquele moleque que encheu seu saco. Sei que ele não conseguirá te ferir, você é estranho demais pra isso, cuidado para não perder o controle.

Davi ficou gelado. “Me descobriram, merda! Meu tio vai me matar! Vou deixar pra contar isso pra ele outro dia. Por enquanto vou ter que fazer as coisas por mim mesmo. Sem coleira”. O dia a partir dali foi chato. O sinal bateu e todos saíram da escola, Davi se lembrou de guardar a jaqueta na mochila para que o tio não a visse. Ele saiu do colégio e deu de cara com Samuel, bufando de raiva.

– Rapaz, aconteceu uma coisa engraçada hoje. – Disse Samuel – Eu não senti falta de nenhuma jaqueta minha. A única que sumiu foi uma que não era minha. Talvez você, com toda sua esperteza, consiga me explicar o que aconteceu. – “Ferrou” foi a única palavra que ecoou na cabeça de Davi naquele momento.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Vira-lata - Cap 2


Capítulo 2 – Primeiro uivo, banhado em sangue.

16 outonos após o nascimento de Davi
Era um começo de noite. Ventos fortes sopravam entre as árvores, mas na floresta densa não tinha lugar para ventos fortes. Ali dentro eles eram apenas leves brisas.

– Cadê a comida moleque? – um grito é escutado dentro da densa floresta de tinguá. Era Samuel, com mais cabelos brancos que antes, e mais gordo também, mas era ele. Ele estava em frente a uma cabana de madeira, no meio da floresta. – Será que um chihuahua não consegue nem caçar direito?

– Cala a boca seu velho sedentário, da próxima vez vai você caçar. – Da floresta sai um jovem, com uma barba densa e cabelos longos, mas dava para ver que era jovem ainda. Sua barba estava suja de sangue, assim como a roupa que usava, uma blusa preta bastante surrada e uma bermuda verde escura. Ele tinha também um cordão de cruz prateado no pescoço. Ele era de estatura baixa, não devia passar de um metro e cinquenta. Ele carregava uma vaca nas costas, ela estava morta com uma ferida no pescoço, aparentemente uma mordida. Apesar do peso da vaca ele a carregava facilmente, como se carrega um saco de batata.

– Vamos ver o que temos hoje – Samuel se aproximou da vaca e começou a avaliar – Muito bom. Mordida direta na jugular. Morte rápida. Só que da próxima vez traga um animal maior, essa vaquinha está muito miúda pro meu gosto. – Samuel soltou uma gargalhada que ecoou na floresta. E o jovem não gostou nada da risada. – Brincadeira. Você está aprendendo muito bem, Davi. Pegue o avental e vamos ajeitar a janta.

– Eu não vou colocar aquele avental de novo.

– Avental é bom pra não sujar as roupas, e eu sempre achei que a cor do avental combinava com seus olhos – Samuel deu uma gargalhada – Mas já que não é o seu estilo, você quem sabe.

Samuel entrou na cabana e Davi ficou do lado de fora, ele colocou a vaca em uma mesa de madeira grande que ficava encostada na parede da cabana e começou a cortar a vaca em pedaços. Depois de certo tempo Davi ouviu um barulho na floresta e olhou na direção de onde vinha. Ele enxergou ao longe uma mulher correndo de um homem.

– Merda... – Ele fincou a faca de açougueiro na tábua aonde cortava. Limpou a mão com um pano que estava no canto da mesa, não queria que o cheiro de sangue fosse forte demais. Ele olhou pra blusa e viu que estava cheia de sangue e olhou pro avental que estava pendurado perto da mesa. – Por que aquele velho sempre tem razão? – Ele arrancou a blusa e foi correndo na direção deles.

Quanto mais se aproximava do homem mais sentia um cheiro estranho, um cheiro de lobo. A ideia de aquele ser um licantropo veio a mente de Davi, mas nunca havia visto ou sentido o cheiro de outro licantropo a não ser o de seu tio, então continuou a correr. Quando chegou perto viu a mulher no chão de costas para a árvore, ela chorava e gritava muito enquanto um homem rasgava a roupa dela. Davi ficou com muita raiva e foi se aproximando devagar.

– Ei! Você! Tire suas patas da moça! – Gritou ele assim que parou a uma distância segura. Assim que ele terminou de falar o homem virou o rosto para Davi que se assustou. O homem tinha caninos avantajados e olhos vermelhos penetrantes. “Um Garra Sangrenta!” pensou Davi.

– Moleque isso aqui é coisa de adulto, vai pra casa bater uma bronha. – Disse com uma voz rouca, ele tinha costeletas bem avantajadas e orelhas meio pontudas. A mulher não parava de gritar, o homem se voltou para a mulher e continuou da onde havia parado.

– Ah cara... – Davi não conseguiu ficar ali, parado. Foi para mais perto do cara e colocou a mão no ombro esquerdo dele. – Para com essa... – Antes que ele terminasse de falar o homem se virou rapidamente o atacando com a parte de trás do braço. Davi se agachou para esquivar do golpe e foi para trás dele. O homem ficou irritado, suas garras cresceram e seu pelos também, mas não muito. Ele também ficou mais troncudo, de forma que sua blusa de marca ficasse estufada. Ele foi para cima de Davi, que esquivou mais uma vez. Isso irritou ainda mais o licantropo. Davi então decidiu lutar de igual para igual. Não que isso fizesse muita diferença em sua fisionomia, mas seus pelos cresceram um pouco, as garras e presas também. E seus olhos tiveram suas cores realçadas, o vermelho e o cinza.

– Como assim? Você também é um de nós? Você não tem cheiro de lobisomem. O que é você?

– Isso não interessa.

– Impossível! Eu teria sentido seu cheiro de longe. Mas você não tem cheiro de nenhuma tribo que eu conheça. O que... O que é você seu merdinha?!

Davi soltou um riso canto de boca.

– Só sabe latir totó? – E o insulto foi super efetivo.

– Filho da... – o homem foi correndo pra cima de Davi, e ali eles brigaram. Foi um luta rápida, bastou apenas uns sete golpes para Davi deixar o homem no chinelo. Ele tentou correr para fugir, mas Davi o pegou pelas pernas e o jogou em uma árvore. O homem se contorcia no chão. Davi se virou para a mulher e disse:

– Corre, procure uma igreja e agradeça a Deus. Eu não te salvei, foi ele que te livrou desse psicopata. Outra coisa, você nunca me viu. Entendeu? – Ela estava com um olhar assustado, as lágrimas ainda caíam de seu rosto quando afirmou com a cabeça. Só agora que Davi percebeu que aquela mulher, na verdade, era uma garota de aproximadamente quatorze ou quinze anos.

– Mu... Mu... Muito obrigado – disse ela chorosa.

– Agora vaza! – Disse Davi, como um verdadeiro cavalheiro.

Davi voltou a atenção para o homem e Samuel estava ali, fincando um punhal no coração do licantropo. A garota não viu a cena, pois já havia saído correndo.

– Mas eu não terminei.

Samuel foi andando na direção de Davi e, antes mesmo que o jovem fizesse algo, deu um baita soco na cara dele.

– Primeiro: você tem quer ter mais cautela, você se mostrou para uma humana. – Davi levou outro soco – Segundo: você lutou contra um lobisomem, sorte sua que ele era fraco. – Davi levou outro soco – Terceiro: ele é um Garra Sangrenta, se ele tivesse fugido você estaria ferrado, e você sabe muito bem o porquê. – Samuel pegou Davi pelo pescoço e o levantou – Olha aqui, você ainda é um filhotinho seu merda! Mal desmamou e j´[a quer lutar. Não faça nada idiota sem minha permissão. – Samuel largou o Davi que caiu no chão. – Vá para a cabana e volte a cortar a carne.

– Mas...

– Vaza! – gritou Samuel. Davi abaixou a cabeça e foi em direção à cabana.

A caminhada para a cabana parecia ter levado horas. Davi foi pensando e se perguntando o porque da reação do tio. Ele chegou à tábua e continuou de onde havia parado. E olhou pro avental.

– Coloca o aventou, blá blá blá – falou ele pensando no seu tio. Mesmo relutante ele colocou o avental. E continuou a cortar a carne.

“Eu não entendi, aquele cara era muito fraco. Nem era um Naor completo, aquele merdinha não era páreo”. Pensou Davi. “Naor não, Uzi. Naor é a ultima fase dos lobisomens, Uzi que é a fase intermediária. Nem em um Uzi completo ele conseguiu se transformar”. Davi terminou de cortar a carne, separou o que ele e seu tio iriam comer e guardou o resto, que só para constar era apenas a metade da vaca. Depois de guardar o que havia sobrado ele pegou a parte que tinha separado e começou a cozinhar dentro da cabana.

Depois de uma hora que Davi havia terminado de cozinhar Samuel chega em casa e bate a porta com força.

– A comida está na mesa – Disse Davi.

– Tô sem fome – ele olhou pras costelas que estavam na mesa quase babando – Vou comer um pedaço, mas ainda estou sem fome. – disse ele pegando um pedaço generoso de carne.

– Tio, por que você ficou tão irritado?

– Você se meteu com um Garra Sangrenta, e isso não é legal. – ele abocanhou mais um pedaço de carne – Você poderia perder muito com isso moleque. – Disse de boca cheia.

– Mas ele não era nem um Zev...

– Uzi, você quis dizer Uzi. Lupo é a forma de lobo, Zev é a forma de lobo gigante. Uzi é a forma humana semi transformada e Naor é a última forma.

– É, foi mal. Ele era muito fraco, dava pra sentir isso no seu cheiro.

– Não julgue um lobo pelo seu cheiro, muitas vezes você vai se dar mal se fizer isso. Outra coisa, se continuar vivendo aqui na cabana, isolado, vai continuar assim, animalesco, então eu tomei uma decisão séria.

– Decisão?

– Sim. Você precisa se misturar com os seres humanos para ser mais... – Samuel olhou para Davi de cima a baixo, tentando buscar uma palavra que se encaixasse no que ele queria dizer – Mais humano.

– Para de enrolar, fala logo, o que você fez.

– Bom, eu te matriculei em um colégio estadual no centro do bairro. – De curioso Davi ficou assustado – E suas aulas começam amanhã.

– A-au-au-aulas? Com outras pe-pessoas?

– Sim. Au-au-aulas com outras pe-pessoas. Vai dormir por que vai ter que acordar cedo amanhã. Boa noite. – E assim eles foram dormir, quero dizer, Samuel foi dormir. Davi ficou acordado ainda pensando no que iria acontecer ao amanhecer. Ele nunca havia convivido com ninguém além do seu tio. E isso seria um desafio para ele, o que para uns é normal, para um lobisomem rabugento seria um problema maior do que ele imaginava.

Em outro canto da floresta.
– Cadê aquele pedófilo desgraçado? – disse um bêbado careca de barba castanha que estava escorado em uma árvore. Ele tinha uma cicatriz em forma de quatro garras que cruzavam na diagonal o seu rosto, a cicatriz ia de orelha a orelha.

– Não faço a mínima ideia. – disse um cara logo atrás dele. Ele era magro, tinha um tapa-olho no lado direito do rosto e fumava um cigarro caseiro fedorento. – O Genival fica nessa coisa de estupros e babaquices. Ele não tem honra.

– E qual de nós tem? – os dois se olharam e gargalharam alto, as gargalhadas chegaram a fazer eco na floresta.

– Olha isso aqui. – o bêbado se agachou e tocou o chão. O chão estava molhado, e tinha uma pegada. – É o cheiro do Genival. Tentaram esconder, mas nada passa despercebido desse nariz movido á álcool.

– Vamos voltar e dizer pro líder. Algo aconteceu com o cara e eu não sinto cheiro de outro lobisomem. Espera aí. – o homem magro parou e começou a farejar o ar. – Eu conheço esse cheiro.

– Eu também! Eu também! – disse o homem careca com raiva – O encontramos. É impossível esquecer o cheiro desse desgraçado.

– O Cavaleiro Andarilho, ele está por aqui. Vamos! Rápido! Vamos avisar ao “Olhos de Dragão”, ele vai adorar saber disso. – os dois homens se transformaram em Lupo e começaram a correr por entre as árvores. Ao longe se escutava uivos, uivos de felicidade.

O problema era de quem era aquela felicidade.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Vira-lata - Cap 1


Capítulo 1

Nosso conto começa em um bairro afastado, de uma cidade não muito conhecida. Um bairro que a maior parte é composta por floresta e sítios. A cidade é Nova Iguaçu, e o bairro se chama Tinguá. Estamos em 1994, para ser mais exato, no meio de uma floresta, onde um homem e uma mulher correm. Eles correm desesperadamente, como se estivessem fugindo de algo. Correm e olham para trás. Em uma dessas olhadas para trás a mulher cai, e se ira para ver. Ela vê vultos velozes passando por entre as árvores. O homem, com um dos braços levanta-a e a ajuda a correr, eles continuam correndo por aquela floresta que parecia sem fim. Um uivo muito forte os faz parar e olhar mais uma vez para trás, os vultos estão próximos demais para que eles possam correr. Aqueles vultos tomaram forma agora que estão parados e mais próximos. Uma forma digna de monstros de lendas antigas. Todos eles com algo em comum: uma cicatriz em forma de quatro garras no peito. O homem que fugia carrega em um dos braços um embrulho de pano, ele vira para a mulher e diz:

– Laura – ele entrega o embrulho para Laura e sorri – Eu te amo!

– Lucius – ela começa a chorar – Eu também te amo. – ela dá um beijo nele e se vira, e sem olhar para trás começa a correr desesperadamente. Escutar os gritos, uivos e os barulhos da luta já era o bastante para que lágrimas caíssem de seu belo rosto.

Laura correu o necessário para não se ouvir nada além do som da floresta, ela estava cansada, ofegante, sentindo como se seu coração fosse rasgar seu peito de tão forte que batia. Ela começou a caminhar e logo chegou na estrada. Ela estava praticamente se arrastando pelo asfalto quando olhou pro lado e viu mais daqueles seres de antes, só que dessa vez eles tinham uma espécie de ombreira de metal reluzente no lado direito do corpo. Havia vários deles, todos enfileirados como se fossem soldados bem treinados, havia também um na frente deles, bastante alto, com duas ombreiras e uma máscara do mesmo material que a ombreira. Eles estavam todos parados, mas Laura sabia os riscos que estava correndo. Ela estava tremendo, não sei se era de medo ou de exaustão, ou dos dois. Ela juntou forças para levantar, deixando o embrulho no chão, andou na direção do seres que fechavam um lado da estrada. Ela escuta o som do motor de uma moto estradeira e acelera um pouco seus passos. Na moto havia um homem com cabelos grisalhos, uma densa barba e óculos escuros. O motociclista pega o embrulho do chão e o coloca no seu braço direito e buzina.

– Muito obrigado velho amigo – disse ela bem baixinho com uma voz sofrida e chorosa.

Laura começa a correr em direção àquelas sombras e em um momento fúria solta um urro e pula para cima das sombras. O barulho da luta faz o embrulho se mexer, era um bebê, que começou a chorar. O motociclista tira uma chupeta meio estranha do bolso e dá ao bebê para acalmá-lo um pouco. O bebê pega a chupeta da boca e volta a chorar. E assim termina aquela madrugada. Em meio ao sangue e à morte nasce o improvável, a criança que nasce no meio de uma guerra oculta, burlando uma das maiores leis entre os que se escondem do mundo. Ali começa o conto do Vira-lata.

8 anos depois...

– Tio Samuel! Tio Samuel! – soa uma voz infantil na floresta – Olha o que eu peguei! Olha! Olha!

– Que é, pentelho? – uma figura sai do meio da floresta densa e se depara com uma pequena cachoeira. Era um homem, velho, com uma barba grande e grisalha e cabelos longos, tão grisalhos quanto a barba. Vestia uma blusa cinza suja de graxa e uma calça jeans rasgada, com um coturno de couro envelhecido pelo tempo. – Eu tenho que terminar os reparos na moto. Fala logo, cadê você moleque?

– Aqui! – Um garoto com um coelho morto na boca sai de trás de uma árvore e vai pra beirada da cachoeira – Eu cacei sozinho. – Era um garoto diferente do que conhecíamos, apesar de novo já tinha costeleta bem espessa, ele tinha cabelos e pelos negros, seus braços e suas pernas tinham tantos pelos quanto um homem adulto teria. Tinha cabelo longo, bastante sujo, que parava nos ombros. Ele tinha unhas negras e pontudas, além de caninos relativamente grandes e bem afiados. Tinha também olhos de cores diferentes, o esquerdo era vermelho e o direito cinza.

O homem passa a mão na barba de forma pensativa, não dava para entender seu olhar, pois usava óculos escuros. Ele sentou a pé do riacho que desaguava da cachoeira.

– Senta aqui Davi, vou te contar uma história – disse Samuel.

Davi foi quase automaticamente para perto dele e sentou com os pés na água.

– Davi, eu tenho que te explicar uma coisa. A sua história, quem foram seus pais, e o mais importante, quem, e o que, você é. Então quero que você preste muita atenção. OK? – o garoto faz sinal de afirmação com a cabeça – Ótimo. Sabe aqueles filmes de lobisomem que a gente vê de vez em quando? – mais uma vez o garoto afirma com a cabeça – Então... Você é um deles, um lobisomem.

– Daqueles que matam as pessoas? – perguntou o garoto assustado

– Mais ou menos, lobisomens têm códigos de honra que não os permite fazerem atrocidades como matar pessoas. Eu também sou um lobisomem, um velho lobo. Mas você é diferente de mim e dos outros, você é o que os outros lobisomens chamam de “improvável”. Existem várias tribos de lobisomens, ou de licantropos como alguns preferem chamar. Aqui no Brasil tem os Lupi-Guará, tribo formada apenas por licantropos que vêm dos lobos-guarás, os Garras Sangrentas, que são bastante sanguinários, e também os Guardiões da Lua, que são os mais justos entre os lobisomens, pelo menos é o que se diz. Têm alguns outros clãs, os Gnolls, os Kitsunes, os Chacais, o Coiotes Ciganos, entre outros, mas estão em menor número nesse país.

– Você é de qual dessas tribos? – Davi interrompe a explicação de Samuel

– De nenhuma dessas, eu sou um Andarilho. Os andarilhos não são tão unidos, nem tem muitas regras, apenas andamos por aí sem rumo.

– E eu?

– Você é um vira-lata. – o garoto ficou um tanto chocado com a resposta seca do seu tio – Isso é um tanto complicado de entender. As vezes algumas tribos misturam suas linhagens como prova de aliança ou para fazerem soldados mais fortes. Mas existe uma regra causada pela rivalidade dos dois maiores clãs do mundo dos licantropos, os Guardiões da Lua e os Garras Sangrentas. A regra é a seguinte: Nenhum Garra Sangrenta deve se envolver com um Guardião da Lua, e vice-versa. Nem conversa amigável pode haver entre as duas tribos. Você é o resultado de um amor que quebrou essa regra. Seu pai se chamava Lucius, ele era o segundo neto do líder dos Garras, Gordon, conhecido como “o lobo vermelho”.  Sua mãe se chamava Laura, era filha de Roran, o líder dos Guardiões, ela era a loba mais linda que já vi nas minhas andanças. Tinha uma pelugem com um tom preto azulado, que sempre que a lua aparecia, seus pelos emitiam um brilho azul escuro hipnotizante. Uma certa vez um grupo de assassinos seguiu sua mãe, e entre os assassinos estava seu pai. Uma luta ocorreu, entre os assassinos e a guarda particular de Laura. Todos morreram ali mesmo, a não ser Lucius e Laura. Quando ele ia matá-la, ela olhou em seus olhos, de forma tão intensa que ele ficou parado por alguns segundos. Ele desceu a mão e ela fechou os olhos, quando ela abriu, a mão dele estava estendida pra ela, pra ajudá-la a levantar. Foi nesse momento que começou a história mais linda e mais horrenda de amor que já presenciei. Muitas vezes tive que ajudar os pombinhos a esconder o namorico deles. – ele deu uma gargalhada – Você é o resultado da mistura dessas duas linhagens. E até geneticamente elas não se dão bem, isso resultou em alguns "defeitos de fábrica". Por isso você tem mais pelos que uma criança normal e tem garras negras, e também tem olhos de cores diferentes.

– Os outros garotos licantropos são tão diferentes de mim? – disse o garoto meio triste.

– Muito diferentes... Mas isso não importa. Vamos pra casa tenho que terminar de colocar o sidecar na moto e tenho mais histórias pra te contar. Hoje teremos canja pra comer.

– Mas eu já cacei o coelho e já tirei a pele – o velho olha e repara que durante a história que era contada, Davi havia tirado a pele e limpado o coelho.

– Tá bom, vou deixar você assá-lo na lareira lá em casa. – Ele mal terminou de falar e o garoto saiu correndo feliz.

– Corre Davi, corre. – disse Samuel com uma voz baixa para si mesmo – Aproveite o tempo que você tem antes que o destino te pegue. Pois quando ele te pegar, você deverá ser forte. Não é fácil ter os dois maiores clãs te caçando até morte meu jovem... Aproveite sua inocência...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Vira-lata - Prefácio


Prefácio

Muitas das vezes estamos confortáveis em nossas vidas, uma vida simples, ou não tão simples assim. Muitas perguntas, alguns desafios, mas sem muitas aventuras. Mas venho lhes trazer uma nova concepção do que você chama de vida. Você já se perguntou “Será que seres mágicos existem?". Se resposta for não, apenas pense comigo. Por aí vemos e lemos muitos livros e filmes sobre lobisomens, vampiros, gárgulas, zumbis, fada, bruxos e bruxas, vampiros que na verdade são fadas, e coisas do tipo. Sabendo disso tenho mais uma pergunta para você: Se isso tudo fosse mentira, como teria sobrevivido por tanto tempo? Desde as primeiras civilizações existem estórias estranhas de pessoas que sofreram maldições e se transformam em seres monstruosos ou de criaturas que vivem no cantos mais escuros e afastados desse planeta.
Alguns defendem a tese que eles nunca existiram, são apenas fruto da imaginação humana, outros defendem a ideia de que eles existiram mas na era das trevas eles foram extintos. Mas minha teoria é um pouco diferente, quando a digo alguns até concordam comigo, outros dizem: "Eu conheço um psicólogo e posso te passar o telefone dele".
Você se pergunta: “Qual é a teoria desse cara”? Bom, eu explico pra vocês. Imaginem se, esses seres mágicos ainda existam, e andam por aí camuflados e vivendo como nós. Esses seres mágicos poderiam ser um executivo que trabalha em uma grande empresa, ou talvez um médico que te atende de vez em quando, talvez um advogado bom em convencer as pessoas, ou quem sabe o mecânico que conserta seu carro, caso você tenha um, ou talvez um catador de lixo que aproveita o que você joga fora. Eles poderiam estar em qualquer lugar, mas como nós, humanos “normais”, temos uma visão cética sobre tudo e todos, não conseguimos ver o que, por exemplo, as crianças vêem.
Se você disse "não" naquela primeira pergunta que eu fiz, tenho um conto para tentar mudar sua forma de pensar, ou simplesmente confirmar sua ideia de que eu tenha problemas psicológicos. Se você respondeu sim naquela pergunta, trago para ti um conto. Um conto um tanto diferente dos que fazem sucesso nos tempos atuais. Um conto que abrange quase todos os tipos literários, mas as características que esse conto mais transmite é o horror e a aventura. Então, vocês querem continuar? Ou preferem parar por aqui enquanto ainda estão lúcidos?
Não importa qual foi a sua resposta agora, eu continuarei contando esta estória. Então a escolha é sua. Prefere continuar em seu mundo cético ou viajar a um mundo totalmente diferente do que você está acostumado?

domingo, 22 de julho de 2012

O início de vários inícios

Saudações. Meu nome é PH, na verdade esse é meu apelido... Mas isso não importa. Criei este blog para entretê-los, ou simplesmente enchê-los a paciência, com meus contos. Contos do dia-a-dia, não dos humanos normais, mas daqueles que são diferentes dos que hoje se dizem "Humanos". Espero que vocês gostem logo estarei postando o primeiro capítulo de "O vira-lata". Então até mais, vida longa e próspera a todos \\//,